A história diz que Braga já teve, em várias ocasiões, demonstrações de rugby, embora só tenha conhecido a modalidade, de forma organizadas, a partir dos anos 1990’. Com o surgimento do Braga Rugby, que se começou a organizar a partir de 2010, várias pessoas ligadas à modalidade, que acharam que a terceira cidade do país merecia que se fizesse mais, puderam praticá-la na sua cidade (ou na cidade que escolheram para viver).
Hoje, o clube Braga Rugby, ligado ao Centro Social e Cultural Santo Adrião, tem quase 150 atletas federados na Federação Portuguesa de Rugby. O desporto é importante, é verdade, mas também o é a formação cívica e os valores da cidadania, inclusão e desportivismo que estão inerentes ao próprio jogo.
Em Braga nunca houve uma grande tradição de rugby, mas a região tem historial, nomeadamente, nos Arcos de Valdevez. Como surgiu o Braga Rugby?
Há dias, vi fotos de 1930, cá em Braga, a jogar-se rugby. Na década de 1960, sei que houve também um jogo de exibição e promoção da modalidade. Depois, até à década de 1990, não houve nada, altura em que começou a jogar-se na Universidade do Minho. O Braga Rugby surgiu em 2010, através de pessoas que estavam ligadas à modalidade noutros locais, nomeadamente, em Arcos de Valdevez, como referiu. Como havia tanta gente daqui, que acabavam por ir para outros locais para jogar, decidimos avançar com este projeto. Fazia todo o sentido para nós, visto que Braga é a terceira cidade do país. A cidade pedia isso. No espaço de cinco anos, passamos da não existência a ser o segundo maior clube do norte do país com atletas registados na federação.
Quantos atletas tem o clube?
Ainda não chegamos aos 150 atletas, mas andamos lá perto. O mais novo tem quatro anos, o mais velho tem 30 e muitos. Depois, há várias pessoas que, mesmo não estando federadas, trabalham connosco. Falo sobretudo de seniores, pessoas que já estiveram na modalidade, principalmente, na Universidade do Minho, que agora voltaram a jogar, ou pais das crianças e jovens que treinam aqui.
O rugby é um desporto que se pauta por uma correção e desportivismo fora do vulgar, se considerarmos que há muito contacto físico.
Há uma coisa muito importante nesta modalidade, que faz toda a diferença na forma como a encaramos: os valores do desporto, sã convivência, companheirismo, entreajuda, resiliência. Há uma coisa que o rugby tem – e que nos tem permitido evoluir – que é a não existência de diferenças.
Em que sentido?
Em todos os aspetos. Por exemplo, aquela imagem do futebol de que o gordo vai à baliza, aqui não acontece. Sejam os gordinhos, os altos, os baixos, os mais rápidos, os mais lentos, todos têm lugar. Depois, no nosso clube há uma preocupação do crescimento social e da igualdade entre todos. Desenvolvemos, por isso, um projeto com instituições de acolhimento de jovens, que permite que eles venham para cá praticar a modalidade, jogam com os outros miúdos e sem qualquer tipo de diferença ou segregação. Por exemplo, no ano passado, tínhamos cá um jovem que era surdo – entretanto, entrou para a universidade de deixou de ter tempo para ver. Foi um desafio para os treinadores e para os colegas, mas que nos deixou muito satisfeitos quando percebemos que o trabalho estava a dar resultado. São projetos que desenvolvemos pro bono e que fazem parte da filosofia do nosso clube. Além dos valores do desporto, temos a obrigação de passar os valores de cidadania.
“No Brag Rugby, desporto e cidadania andam de mãos dadas”
Num clube com muitos jovens.
Temos mais de 100 jovens, menores de idade, com os quais temos trabalhado nestes ideais. O resultado tem sido extraordinário e deixa-nos muito satisfeitos ver que o que estamos a fazer está a dar resultados.
Em termos de formação na modalidade, que escalões tem o Braga Rugby?
No rugby, os escalões são de dois em dois anos. Este ano, estamos a avançar para escolões de sub-6, no norte do país, para perceber se poderemos criar competições para estas idades.
Nessas idades, já têm os conceitos do rugby assimilados?
É complicado jogar em equipa. Aos seis ou oitos anos, eles querem é ter a bola e marcar ensaios [risos]! Como estava a dizer, temos sub 8, sub-10, sub-12, sub-14, sub-16, aub-18 e seniores. Também há femininos, que jogam mistos até aos 14 anos. A partir dessa idade, jogam separados. Este ano [2017/18], foi a primeira vez que não constituímos equipa feminina, porque as jovens que estavam nessa equipa eram estudantes universitárias e, como acabaram o curso e abraçaram carreiras profissionais, deixámos de ter atletas suficientes. Estamos a tentar retomar a equipa feminina o mais rapidamente possível.
Acha que a participação histórica de 2007 ou a mediatização de alguns jogadores fazem aumentar o número de atletas?
É natural, há mais procura nesses momentos. Em 2007, o número de praticantes subiu, assim como o número de clubes. Nessa altura, havia uma série juvenil – Morangos com Açúcar – que também incluía a modalidade nas histórias que desenvolvia… Quanto mais se fala em rugby, mais atletas vão praticar a modalidade. No entanto, ainda há muita gente que desconhece que Braga tem um clube de rugby e que se pratica a modalidade em vários escalões. Quando as pessoas começarem a conhecer melhor o nosso clube, tenho a certeza que aumentaremos muito o número de atletas. Por exemplo, o CDUP, no Porto, tem cerca de 300 atletas inscritos.
Que relação têm com a Universidade do Minho?
Temos uma relação muito próxima com a Universidade do Minho, porque os nossos atletas fazem parte da equipa universitária. A prestação nos campeonatos universitários tem conhecido uma excelente evolução, em masculinos, e, quando tínhamos feminino, as atletas chegaram a apurar-se para um campeonato europeu universitário, em Espanha. Os alunos que pretendem praticar a modalidade vêm para cá porque é o único clube da cidade, acaba por ser a escolha natural.
Fica sempre a ideia de que este é um desporto violento…
A perceção que as pessoas têm é que é um jogo violento, que anda tudo aos murros… Totalmente errado. A lealdade é o primeiro ensinamento para os jogadores de rugby. É um desporto de contacto físico, sem dúvida, mas os atletas são treinados para perceber quando acontece esse contacto físico, como se preparam para esse contacto e como devem posicionar o corpo para não se magoarem. Ao contrário de outros desportos, apenas o portador da bola pode ser placado e, por isso, já sabe que é o ‘alvo’ de quem está a defender e tem de estar preparado para evitar mazelas. Desde os quatro anos, os miúdos são ensinados todas estas regras e truques.
Como pode crescer o Braga Rugby?
Penso que, em cinco ou seis anos, aquilo que já se fez é um exemplo daquilo que ainda poderá fazer-se. Se o rugby for ainda mais conhecido, poderemos criar aqui um grande polo da modalidade. Estamos a falar de uma das cidades mais jovens da europa, boas infraestruturas desportivas, nomeadamente, relvados sintéticos – é curiosos que clubes de topo em todo o mundo estão a apostar nos sintéticos. Se tivermos uma estrutura especificamente preparada para jogar rugby, onde possamos ter os postes fixos todo o ano e com condições para a prática deste desporto, poderemos crescer muito. No entanto, somos um clube bastante recente e estamos muito satisfeitos com o percurso que fizemos até agora.
PERFIL
PEDRO AGUILAR
Conheceu a modalidade e fez toda a formação nos Arcos de Valdevez [CRAV]. Por questões profissionais, jogou no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Foi um dos fundadores do Braga Rugby. Pedro Aguilar é natural de Moure, Póvoa de Lanhoso, mas trabalha em Braga há muitos anos, na área da gestão. Está ligado há vários anos, nomeadamente, ao grupo Gnomos