O Clube Artigym trabalha diretamente com a Escola Alberto Sampaio, colaborando com o clube de Desporto Escolar daquela instituição, contabilizando uns impressionantes 430 atletas a praticarem uma modalidade que não tem as condições que os responsáveis desejariam. Só para se ter uma ideia, todos os dias, equipa técnica e atletas têm de montar (e desmontar) os equipamentos para a prática das diversas disciplinas dentro da ginástica que o Artigym disponibiliza, num esforço que tira tempo de treino e desgasta todos os que gostariam de treinar mais e melhor. As dificuldades não terminam por aqui: os atletas apenas podem treinar após as 18:30h, visto que o pavilhão da Escola Alberto Sampaio tem de dar resposta Às necessidades curriculares da disciplina de Educação Física. Apesar de tudo isto, Rui Martins, diretor do Clube Artigym, mantém um discurso positivo e espera, brevemente, poder ter um espaço onde os aparelhos fiquem montados e, dessa forma, poder desenvolver uma modalidade que tem cada vez mais praticantes.
Que trabalho desenvolve o Artigym?
O Artigym tem, entre formação, competição e babygym, cerca de 300 atletas. Temos um protocolo de colaboração com o Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio [AESAS], e trabalhamos nas instalações da Escola Alberto Sampaio, também em colaboração com o Clube de Desporto Escolar da escola. Em conjunto, as duas instituições, AESAS e Artigym, constituíram um centro de formação, que já existe há muitos anos e que trabalha com mais de 400 atletas. Inicialmente, trabalhávamos apenas com crianças dos 5/6 anos em diante. Neste momento, tendo o Agrupamento de Escolas permitido, em termos de horários, conseguimos criar a turma de babygym, onde se pretende aprender a conhecer o corpo e a perceber os padrões de movimento gímnico, um trabalho de conhecer o corpo e como mexer o corpo, perceber os movimentos básicos da ginástica. Este trabalho pode ser feito a partir dos 3/4 anos e, depois, quem quiser pode continuar para a competição ou fazer apenas formação.
Como surgiu?
Até 2004, o que existia era um clube de Desporto Escolar normal. Entretanto, formaram-se as escolas de referência desportivas. A equipa que estava lá, dirigida pela professora Fátima Matos e pelo professor António Peixoto, aproveitou a oportunidade e criou o Centro de Formação Desportiva do Desporto Escolar e começou a receber alunos também de outras escolas, como está previsto no Desporto Escolar. Criou-se um programa de formação, que desse oportunidade aos jovens de praticar essa modalidade, nomeadamente, Ginástica Acrobática e de Grupo. Começaram a fazer-se provas de seleção, às quais concorriam, todos os anos, 120 alunos para 10 lugares. O Clube Artigym surgiu para dar resposta a todos os que não conseguiam colocação mas que queriam continuar a praticar ginástica. O projeto foi crescendo e ganhando estrutura e, neste momento, já é o sexto ano de existência.
Quantas pessoas praticam a modalidade no clube?
A estrutura que funciona no AESAS é composta por Clube de Desporto Escolar, que tem cerca de 120 alunos, e Clube Artigym, cerca de 310. Tudo junto, são cerca de 430 alunos. Temos 10 a 12 técnicos, com formação específica em ginástica, um processo que foi sendo construído. O clube foi apoiando a formação específica, porque as pessoas mostraram interesse em trabalhar connosco. Quer na competição, quer na GPT – Ginástica para todos na Temos atletas
Mas há uma lista de espera…
Continuamos a ter lista de espera… É difícil, mas é a realidade. Há 40 crianças, entre os 6 e os 10 anos; dos 10 em diante, outros 40 jovens. De um ano para o outro, uns saem e outros entram e vai tentando dar-se resposta… no entanto, não podemos dizer às pessoas: ‘quer vir? Venha!’. Às vezes, demora um mês, outras vezes, três meses. Posso estar enganado, embora já ande nesta área há algum tempo, mas este é o único clube de ginástica da cidade, a trabalhar de forma estruturada e contínua, por isso, temos tanta procura. Além de nós há apenas outras escolas que oferecem essa modalidade, no âmbito do Desporto Escolar – como a ESAS.
Com tanta procura, o que é necessário para ter uma resposta à altura das necessidades?
A ginástica é uma modalidade que tem muita procura, em Portugal e, especificamente, em Braga, mas não há resposta suficiente. É um trabalho desgastante, nomeadamente, na gestão de toda a estrutura. Não há um local onde os aparelhos estejam montados e onde as crianças chegam, treinam, e vão embora. Todos os dias temos de montar tudo, com o handicap de termos de o fazer apenas após as 18:30. Até essa hora, a Escola Alberto Sampaio tem a sua atividade letiva normal. Temos ginastas que poderiam fazer treinos de três horas e ir embora para casa às 20:00/20:30, mas só vão às 21:15/21:30 e, no dia seguinte, têm novamente aulas às 8:30. Torna-se complicado gerir, em termos familiares. Os pais têm sido um suporte fundamental para tudo isto funcionar. Se houvesse um espaço, com capacidade de resposta para as necessidades atuais, isso facilitaria a nossa tarefa e, com toda a certeza, teríamos mais pessoas a fazer ginástica em Braga.
A vereadora do Desporto, Sameiro Araújo, já identificou esta como uma das suas prioridades.
Ao fim de cinco anos de existência da Artigym, em que tentamos dar conta deste problema desde o início, é bom saber que alguém nos deu ouvidos e considera a ginástica uma prioridade. Para todos os efeitos, este é um problema da cidade. Trabalhamos com crianças e jovens de Braga, que querem melhores condições para praticarem ginástica. De forma estruturada, já há um trabalho na modalidade há mais de 20 anos e parece-me ser importante esta resposta. Percebemos, contudo, que o investimento inicial é muito elevado, no entanto, após analisar vários exemplos no país e fora do país, são espaços sustentáveis e que não se tornam ‘elefantes brancos’
“Temos cerca de 80 pessoas em lista de espera para entrar para o clube”
O que seria um bom espaço para a prática de ginástica?
Um bom exemplo é a sala especializada de ginástica que está a ser construída para o Sport Club do Porto, clube com dimensão semelhante ao Artigym e que permitiria dar resposta à realidade atual de praticantes e também à evolução na competição. Estamos a falar de um espaço com cerca de 50 metros de comprimento por 40 de largura, ou seja, cerca de 2 mil metros quadrados. O que é importante perceber é que, por vezes, 4 ou 5 metros para um lado ou para o outro podem fazer toda a diferença na rentabilidade final do espaço
O que faz o Artigym e como é que tudo isto começou?
A Federação tem sob a sua alçada 8 disciplinas: ginástica artística feminina e masculina, ginástica rítmica e trampolins, são as quatro olímpicas. Depois, há ainda a acrobática, a aeróbica, o Teamgym e a GPT – Ginástica para todos, que não tem caráter competitivo. Comigo e com a professora Eduarda Lopes, o Clube Artigym começou com a ginástica artística feminina, depois acrescentámos a masculina, ambas em formato competitivo. Para dar resposta à crescente procura pela disciplina, mais pelo lazer e pela formação que propriamente pela competição, sentimos a necessidade de incluir a Ginástica para todos, que permite aos atletas participarem em encontros de ginástica de forma recreativa. No entanto, há turmas de formação que trabalham de forma tão intensa como as turmas de competição, apenas não competem. No Desporto Escolar, fazemos um trabalho de mostrar as várias modalidades nos primeiros anos e, a partir daí, começa um processo de seleção mediante determinados requisitos, em que os alunos são distribuídos por turmas com objetivos específicos, na competição ou na formação.
Como pretendem evoluir no futuro?
Neste momento, a federação uniformizou a organização entre as diferentes disciplinas. Há uma divisão base e uma primeira divisão em todas as disciplinas. No caso do Artigym, considerando todas as dificuldades que temos, nomeadamente em termos de limitação de espaço, não conseguimos evoluir mais. Não conseguimos trabalhar níveis de dificuldade que nos permitam evoluir, por isso, apenas trabalhamos ao nível da divisão base. Já tivemos uma equipa juvenil no campeonato nacional, que obteve o primeiro lugar, já tivemos vários resultados de relevo em termos individuais, mas daí até avançarmos com um projeto de primeira divisão, precisamos de ter as condições necessárias. Estamos a falar em termos nacionais, porque se falarmos na competição internacional ainda estamos mais longe. Continuamos a investir em material na perspetiva de conseguir sempre a máxima segurança, porque é mais importante, para nós, trabalharmos em segurança, mesmo que isso limite os níveis competitivos.
PERFIL
Rui Martins
O diretor começou no Desporto Escola em 2004, entrou como aluno e esteve lá cerca de dois anos. Fez a Licenciatura em Ciências do Desporto e Mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário ( na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto) e, por incentivo dos responsáveis pelo Desporto Escolar, esteve na génese do Clube Artigym, há cinco anos. É presidente da associação sem fins lucrativos que gere o clube, onde é diretor e treinador (possui o grau II).