Braga foi escolhida pela Associação das Capitais Europeias do Desporto (ACES Europe) como Cidade Europeia do Desporto em 2018, uma distinção atribuída a cidades entre 25 mil e 500 mil habitantes, que premeia boas práticas e pretende promover o fenómeno desportivo e o exercício físico na região em que se insere. Conheças as razões que estão por detrás desta candidatura de Braga, assim como as políticas de incentivo à prática desportiva que o município pretende seguir para chegar ao fim do ano com uma maior percentagem de bracarenses a fazerem exercício físico – e ser essa a grande herança que ficará de 2018!
Quais os principais objetivos de Braga 2018, Cidade Europeia do Desporto?
A atribuição de um título como Cidade Europeia do Desporto possui por si só alguns desafios inerentes à própria ostentação deste título, nomeadamente as intervenções na promoção do desporto e da atividade física, reconhecendo a estes inegáveis capacidades junto de áreas como a saúde e bem-estar das populações, na atenuação de diferenças sociais e igualdade de género, na integração de pessoas portadoras de deficiência, como veículo de promoção turística, como instrumento de educação cívica e como ferramenta na manutenção do património cultural. No fundo, estes são os objetivos de âmbito mais genérico com a ostentação do título de Cidade Europeia do Desporto. De forma mais específica, pretendemos a promoção de Braga no panorama nacional e europeu, enquanto destino turístico desportivo por excelência, a promoção das nossas coletividades desportivas e do excelente trabalho que têm realizado e o aumento do número de bracarenses desportivamente ativos, incidindo sobre os aspetos de promoção da saúde, em detrimento do combate à doença.
Para permitir um aumento de pessoas a praticarem desporto, deverá haver condições físicas para tal. Acha que o concelho está bem apetrechado de infraestruturas? O que falta?
A cidade de Braga possui mais de 650 infraestruturas desportivas distribuídas por todo o concelho, possuindo atualmente uma área desportiva útil de 4.04 m2 por habitante, valor que se encontra ligeiramente acima do aconselhado pelas instâncias internacionais. Assim, se considerarmos apenas o número total em si mesmo, podemos constatar que Braga se encontra com ótimas condições ao nível das infraestruturas desportivas. Se efetuarmos uma análise mais atenta a esta situação, verificamos alguns problemas no parque desportivo concelhio. As principais infraestruturas desportivas municipais estão envelhecidas, necessitando urgentemente de requalificação, algumas das quais estão em andamento. Possuímos, também, desajuste face às atuais necessidades da sociedade, nomeadamente de locais informais para a prática desportiva, que estamos a tentar corrigir, por exemplo, com o alargamento do Complexo Desportivo da Rodovia e da Via Pedonal do Rio Este, mas falta um parque da cidade que permita também esta prática informal. Possuímos ainda uma lacuna ao nível da existência de um pavilhão municipal que permita alocar jogos de elevado nível competitivo, nas mais variadas modalidades. Possuímos também a maior oferta desportiva privada nacional ao nível de ginásios e health clubs, considerando a área desportiva por habitante.
De que forma serão integrados os clubes, agentes importantes na dinamização desportiva do concelho?
Um dos grandes fatores de sucesso na candidatura de Braga a Cidade Europeia do Desporto foi a mobilização dos clubes em torno deste sonho que agora se tornou realidade. Sem eles, muito provavelmente não seríamos hoje Cidade Europeia do Desporto (CED). Da mesma forma que foram um elemento fundamental no processo de candidatura, os cerca de 140 clubes e associações desportivas que possuímos no concelho de Braga, são também um fator de extrema importância no sucesso que pretendemos para a Cidade Europeia do Desporto em 2018. Tal como indica na sua questão, os clubes são dos agentes mais importantes na dinamização desportiva do concelho, assumindo o Município o seu lugar de facilitador e promotor da sua atividade. Ao longo deste ano, de forma bastante repetitiva, temos solicitado a todos os clubes que participem e vivam de forma direta a CED, ao promoverem eventos e atividades que integrem a sua programação, com o objetivo de mobilizarem cada vez mais os bracarenses para a atividade desportiva, seja de caráter formal ou informal.
E que trabalho será feito com as Escolas?
Para este ano possuímos dois projetos significativos, que pretendem deslocar a CED às Freguesias e às Escolas, levando desta forma o espírito da CED junto da população em geral, mas também da população escolar, promovendo um vasto conjunto de atividades desportivas em contexto local. Além deste aspeto, sensibilizamos também as escolas a apresentar iniciativas que integrem a calendarização da CED, tendo já sido recebidas algumas propostas, como por exemplo uma competição de videojogos apresentada pelo Agrupamento de Escolas D. Maria II.
Já no processo de candidatura as escolas foram extremamente importantes, com a realização de um cordão humano que uniu vários milhares de alunos e mais de uma dezena de escolas, demonstrando uma mobilização total para a conquista do título de Cidade Europeia do Desporto. Já este ano efetuando um logótipo humano da CED com o apoio fundamental do Agrupamento de Escolas André Soares. Contamos com todos os agrupamentos de escolas para chegarmos juntos dos jovens, passando a mensagem da importância do desporto e da atividade física na promoção da saúde, sendo este o principal objetivo da CED.
Uma das questões que se coloca à organização é conseguir mobilizar o cidadão comum, que não faz parte de nenhum clube ou associação, a participar nas atividades. Esse trabalho será feito de que forma? Por exemplo, em colaboração com os ginásios da cidade ou outras organizações informais [como o Braga a Correr]?
Sim, sem dúvida. Como já disse anteriormente, o grande objetivo da CED é mobilizar o maior número de bracarenses para a prática desportiva. Também compreendemos que o Município por si só não poderá dar este tipo de resposta, daí o convite a todas as entidades privadas, assim como aos clubes e outras organizações informais que promovem a prática desportiva organizada, para se juntarem a nós neste grande objetivo, que obviamente beneficiará todos em prol de uma causa comum. A quase totalidade dos ginásios com presença em Braga são nossos parceiros no programa MEXE-TE Braga, disponibilizando atividade física gratuita ao longo de todos os domingos de manhã, entre abril e setembro. Este é um dos programas desportivos municipais que objetiva um convite sistemático da população à prática desportiva. Aproveito também este momento para a agradecer a todos eles, a colaboração que têm prestado ao Município no âmbito da promoção da atividade física. Com o Braga a Correr também já existem contatos no sentido de se articular algo especial para a programação da CED. Mas este é um grupo que conquistou já o seu espaço na cidade e nomeadamente da prática desportiva informal, estando os seus organizadores de parabéns pela dinâmica que conseguiram implementar. O objetivo passa por conseguirmos criar novos grupos como o Braga a Correr ao longo do ano de 2018, que mobilizem a população, por exemplo, um grupo de cicloturistas.
“Deveríamos apostar mais na promoção da saúde que no combate à doença”
O Eurobarómetro de 2004 diz que apenas 36% dos portugueses faziam exercício, em contraponto com a Suécia, onde 70% da população era desportivamente ativa. Como acha que se poderá reverter uma tendência de décadas? Quais acha que são os fatores que levam a tal disparidade? Levantar cedo para ir correr custa em Portugal, como na Suécia, como na China…
Penso que essencialmente é uma questão cultural, que obviamente levará bastante tempo a alterar. Alterar mentalidades é a parte mais difícil de todo este processo. Se nos recordarmos, ainda acerca de 10-15 anos atrás, as pessoas que eram vistas a correr, ou a caminhar nas bermas das estradas eram conotadas de forma bastante negativa, mostrando de forma bem evidente a mentalidade retrograda, de falta de cultura desportiva e, sobretudo, de desconhecimento dos benefícios da prática desportiva para a promoção da saúde. Incidindo ainda sobre o cerne desta questão, que para mim é a promoção da saúde, as próprias políticas nacionais incidem sobretudo no combate à doença e não na promoção da saúde, quando sabemos, através do exemplo dos países que indica na sua questão, que um investimento na promoção da saúde diminui consideravelmente as despesas com o combate à doença. Infelizmente penso que ainda estamos longe desta mentalidade, como vemos através das medidas deste orçamento de estado, onde se elevam impostos na alimentação de produtos pouco saudáveis, mas mantendo os impostos relacionados com as entidades que promovem atividade física. Cabe a todos nós, entidades públicas e privadas, continuar a sensibilização para a prática desportiva, tornando-se a CED um momento de especial sensibilização.
No dia da apresentação do programa, foi anunciada a realização de um estudo para perceber o efeito CED no número de praticantes de desporto no concelho. O que espera ver vertido nesse estudo e de que forma isso poderá influenciar positivamente a forma como os bracarenses olham para a atividade desportiva?
Objetivamente, espero sinceramente que ocorra um aumento bastante significativo na percentagem de bracarenses desportivamente ativos. O esforço que todos efetuamos nesta candidatura foi exatamente a pensar nesta alavanca que poderá ser a CED. Além dos ginásios e clubes que são já nossos parceiros, convidamos também as instituições de saúde, Hospitais e Centros de Saúde, para que nos ajudem a passar a mensagem da importância da atividade física na melhoria dos níveis de saúde, essencialmente relacionados com as doenças de índole hipocinética (diabetes, hipertensão, colesterol, …). Além do estudo que indica, estão também previstos mais dois, um incidindo sobre o impacto económico da CED, numa vertente mais relacionada com o turismo desportivo, outro a efetuar em todo o universo escolar, que permitirá indicar quais as preferências desportivas das nossas crianças e jovens, permitindo-se retirar ilações políticas e fundamentar tomadas de decisão nas políticas desportivas futuras.
Que mensagem gostaria de enviar a todos os bracarenses, num momento tão importante e decisivo para o futuro do concelho, mas das próprias pessoas, pelas implicações que a prática desportiva tem na saúde e bem-estar de cada um?
Essencialmente que vivam e participem na CED, nas várias possibilidades que esta irá permitir, como adepto ou espetador, ou, aquela que mais desejamos, como praticante. A mensagem tem sido exatamente esta que tentamos passar, a CED é para todos os bracarenses. Temos a perfeita noção que este vai ser um ano ímpar. Todos temos que o rentabilizar ao máximo. Os bracarenses vão poder observar modalidades nunca praticadas em Braga, verão seleções nacionais que nunca competiram na nossa cidade, terão acesso a eventos dos mais variados âmbitos para que todos possam participar, mas sobretudo, a sensibilização vai ser massiva para a prática desportiva, passando a mensagem que todos conhecemos, mas que infelizmente alguns parecer não acreditar, que são os benefícios da prática desportiva nos índices de saúde de cada um, que sobretudo nos garantirá uma melhor qualidade de vida e maior índice de felicidade em cada bracarense. Assim construiremos uma cidade desportiva, uma cidade com saúde, uma cidade com melhor qualidade de vida, uma cidade feliz. Contamos com todos os bracarenses, estão literalmente todos convidados para a CED!